Com intensa dose de discussões, mensagens polêmicas em redes sociais, declarações explosivas que agradaram alguns e desagradaram outros, nesse início de 2020 a gestão do atual presidente eleito Jair Bolsonaro completa um ano à frente do governo brasileiro com a área econômica sendo ainda alvo de muitos olhares e interpretações por parte do mercado. E para desvendar um pouco sobre como se comportou o Brasil em 2019 e a expectativa para a economia do país no ano que entra, a Revista Fortus News conversou com o Doutor em Economia Fernando Ferrari Filho, professor titular do Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e docente visitante na Washington and Lee University, nos Estados Unidos.
– Qual sua análise com relação ao cenário econômico atual do Brasil?
Em 2019, houve avanços na agenda das reformas, especialmente no que diz respeito à Reforma da Previdência. A PEC da liberdade econômica deve facilitar a desburocratização do processo econômico e a redução da taxa Selic mitiga o desequilíbrio financeiro do setor público. Em outras palavras, as referidas medidas melhoraram o ambiente institucional para a tomada de decisão de investimentos privados.
– Qual a expectativa para a economia do país ao longo de 2020?
O fato de o cenário econômico ter melhorado em 2019, não quer dizer, todavia, que a economia brasileira entrará em um novo ciclo de prosperidade. Para termos um crescimento robusto e consistente são necessários: política industrial, expansão da relação crédito/PIB e juros de mercado civilizados, reforma tributária – em conformidade com os princípios de eficiência e justiça -, parcerias público-privadas, política fiscal ativa – o Novo Regime Fiscal, implementado em 2016 engessa em demasia o setor público -, programas sociais que diminuam a desigualdade distributiva e gerem inclusão social e cenário internacional favorável, entre outros pontos.
– E o crescimento da economia brasileira para 2020. Em que percentual você aposta?
Como, provavelmente, alguns dos pontos apresentados anteriormente não deverão ser observados em 2020, o crescimento econômico não deverá ser dos mais alvissareiros. Minhas apostas são de um crescimento econômico ao redor de 2,0%. Com certeza, um resultado melhor do que o crescimento do PIB para 2019, que deverá ser de 1,0%, mas risível, principalmente tendo em conta que em 2015 e 2016 tivemos uma severa recessão, e em 2017 e 2018 a atividade econômica cresceu a uma média de 1,1% ao ano.
“Se a economia crescer, como são as previsões mais recentes do Relatório Focus do Banco Central, 1,0%, 2,3% e 2,5%, respectivamente, em 2019, 2020 e 2021, em termos reais no ano de 2022 o PIB retorna ao seu nível de 2014.”
– Para que possamos voltar a crescer verdadeiramente, de que forma a economia brasileira precisa se comportar?
A ação do Ministério da Economia não deve ser centrada, única e exclusivamente, no lado da oferta. Demanda importa, e muito. Medidas que estimulem consumo e investimentos são fundamentais. Conforme mencionei anteriormente, juros de mercado civilizados, política industrial, parcerias público-privadas para melhorar a infraestrutura do país e política fiscal contracíclica são fundamentais. Por outro lado, é importante se ter ciência de que a ação do Estado é fundamental para o funcionamento da lógica do Mercado.
– E a questão do desemprego, quando deverá mudar e as empresas voltarem a contratar?
Apesar de uma melhora na expectativa de crescimento do PIB para 2020, isso não quer dizer que a atual taxa de desemprego, da ordem de 11,8%, caia consideravelmente. A taxa de desemprego é uma variável que cai timidamente quando há indícios de recuperação econômica, ao passo que em momentos de crise ela cresce consideravelmente. Nesse sentido, eu diria que nos próximos anos a taxa de desemprego deverá continuar na casa dos dígitos. Além disso, outra questão a mencionar é que, segundo a Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios, do IBGE, a precarização – ou seja, redução dos direitos trabalhistas, terceirização e mudanças estruturais no mercado de trabalho – e a informalidade da mão de obra representam, hoje, cerca de 45,0% da força total de trabalho.
– Em se confirmando o crescimento do PIB previsto para os próximos anos, quanto tempo levaremos para voltar ao patamar de 2014, antes da crise?
Se a economia crescer, como são as previsões mais recentes do Relatório Focus do Banco Central, 1,0%, 2,3% e 2,5%, respectivamente, em 2019, 2020 e 2021, em termos reais no ano de 2022 o PIB retorna ao seu nível de 2014.